Nos últimos anos, a indústria de seguros em Portugal tem enfrentado uma nova e crescente ameaça: as alterações climáticas. Desde tempestades severas até ondas de calor recorde, os eventos climáticos extremos tornaram-se mais frequentes e intensos, gerando um aumento significativo nos sinistros e nas indemnizações pagas pelas seguradoras. Isso tem forçado as empresas de seguros a repensar as suas estratégias de gerenciamento de risco e a adaptar as suas ofertas para enfrentar este novo cenário climático desafiador.
A AXA Portugal, uma das principais seguradoras do país, foi uma das pioneiras a reconhecer os riscos associados às alterações climáticas. Segundo António Carvalho, diretor de riscos da empresa, a AXA tem vindo a investir em modelos de previsão mais avançados e em parcerias com instituições de pesquisa para melhor compreender as implicações das alterações climáticas. “As mudanças climáticas representam um desafio global que exige uma resposta integrada e inovadora. Estamos a trabalhar ativamente para desenvolver soluções de seguros que protejam tanto os nossos clientes como os nossos ativos”, afirma Carvalho.
Outro impacto significativo das alterações climáticas no setor de seguros é a redefinição dos preços dos prémios. Com o aumento da frequência e da intensidade dos eventos climáticos extremos, as seguradoras estão a ser obrigadas a recalcular os preços de suas apólices. Em muitos casos, isso significa aumento dos prémios para os clientes, particularmente aqueles que vivem em áreas mais vulneráveis. Esta situação tem gerado insatisfação entre os consumidores e levantado questões sobre a acessibilidade dos seguros a longo prazo.
Além disso, as mudanças climáticas têm levado a indústria de seguros a explorar novos produtos e serviços. Uma tendência emergente é a oferta de seguros paramétricos, que são calculados com base em parâmetros climáticos específicos, como a quantidade de chuva ou a velocidade do vento, ao invés de nas perdas reais. Este tipo de seguro pode proporcionar compensações mais rápidas após um evento climático extremo e é visto como uma solução promissora para enfrentar os desafios das alterações climáticas.
As companhias de seguros também estão a investir em programas de resiliência climática para ajudar os seus clientes a prepararem-se e responderem melhor aos eventos climáticos severos. Estes programas incluem desde aconselhamento sobre medidas de mitigação de riscos até financiamento para a implementação de infraestruturas mais resistentes às mudanças climáticas. Generali Seguros, por exemplo, lançou recentemente uma iniciativa para apoiar as pequenas e médias empresas na adaptação às mudanças climáticas, fornecendo subsídios para a instalação de sistemas de energia renovável e a construção de infraestruturas resistentes a inundações.
Por outro lado, as seguradoras têm começado a tomar uma posição mais ativa na promoção da sustentabilidade e na redução dos impactos ambientais. Muitas empresas estão a fazer esforços para reduzir a sua própria pegada de carbono, investir em projetos de energia renovável e apoiar iniciativas de conservação ambiental. Este compromisso com a sustentabilidade não só ajuda a mitigar os riscos associados às mudanças climáticas, mas também reforça a responsabilidade social corporativa das seguradoras e a sua imagem perante os consumidores.
No entanto, apesar dos esforços em curso, o setor de seguros em Portugal ainda enfrenta desafios significativos em relação às mudanças climáticas. A falta de dados precisos e abrangentes sobre os riscos climáticos específicos da região e a incerteza em torno das projeções climáticas futuras dificultam a análise de risco e o desenvolvimento de soluções eficazes. Além disso, a necessidade de coordenação entre as diferentes partes interessadas – desde governos e reguladores até empresas e comunidades locais – torna a resposta às mudanças climáticas uma tarefa complexa e multifacetada.
Em resumo, as alterações climáticas representam um desafio monumental para a indústria de seguros em Portugal. As seguradoras precisam adaptar-se rapidamente a uma realidade climática em constante mudança, implementando novas estratégias de gestão de riscos, desenvolvendo produtos inovadores e promovendo a resiliência e a sustentabilidade. Embora a estrada à frente seja cheia de obstáculos, a resposta proativa do setor oferece um vislumbre de esperança de que, com a abordagem certa, é possível enfrentar e mitigar os impactos das mudanças climáticas no setor de seguros e na sociedade como um todo.